Nós falamos o tempo todo em empoderamento através da beleza. Ou seja, a beleza também é política. A beleza empodera, dá força, encoraja, transforma. E em cada momento da História essa força é concentrada em alguma idéia renovadora dentro do mercado, trazendo em si algo novo, seja um conceito, afirmação ou sensação de poder.
Quem nunca ouviu alguém falar sobre o poder de um batom vermelho?
A mais jovem deputada norte-americana Alexandria Ocasio-Cortez, que virou um novo ícone feminista pop, declarou:
“Eu uso batom vermelho quando quero me sentir confiante, quando quero aquele boost de confiança.”
Quem nunca ouviu falar do poder de transformação de uma maquiagem.
Quem trabalha na área sempre ouve aquela máxima:
– Agora sim tô poderosa.
Quem nunca ouviu falar do empoderamento através do conceito de beleza natural, tão em voga atualmente?
A pele natural, os cabelos naturais, os fios brancos assumidos (que trazem uma reverberação da potência do tempo), toda a força renovada de uma geração em novas formas de aceitação de poder, em amplo sentido.
A maquiagem, ou a ausência dela também é política; ela define estratégias de poder, de aceitação, de ataque, etc… e é por isso que resolvi escrever sobre essa relação que pode não ser tão explícita mas que se pararmos para pensar, entenderemos como necessária.
O uso da maquiagem masculina, como outro exemplo, também tem crescido muito. Inclusive no universo LGBT, cada vez mais usamos a maquiagem para legitimar discursos e identidades de gênero. Nesse caso, homossexuais ou não usando maquiagem vão na contramão da não aceitação da identidade de gênero propagada pelo governo, que é claramente LGBTfóbico, contra o amor em todas as suas possibilidades, em seus discursos de ódio. Usar a maquiagem é um ato político. Uma política que a gente faz todos os dias, fazendo arte, usando maquiagem, ou simplesmente existindo como somos e queremos ser.
Por toda essa política que fazemos todos os dias e que muitas vezes não nos damos conta, identifiquei algumas questões que vão contra os interesses da própria classe em alguns grupos e nas redes sociais. Muitos maquiadores reclamando, falando da perda de oportunidades, das dificuldades durante a pandemia, da diminuição constante dos trabalhos, dos cachês que diminuíram ou que tem sido inexistentes etc.
Muitos dos que se queixam continuam defendendo governos arbitrários e preconceituosos, que implementam políticas retrógradas, reacionárias e inibidoras de todo pensamento divergente. Outros se gabam por que votaram nulo ou em branco, ou mesmo nem compareceram às urnas. Muitos enchem o peito para falarem – Essa culpa eu não carrego.
Pois sim, carregamos todos!!!
E continuamos reclamando das condições atuais de trabalho, de auxílios não recebidos, de negócios cancelados ou se sustentando às duras penas.
E o que temos? Governos que em momento algum nos deram suporte, ao contrário, precarizaram o audiovisual brasileiro deixando muitos profissionais à deriva. Governos que não incentivam a educação e as artes. Governos que eliminam incentivos para novos espetáculos. Enfim, Governos que restringem trabalhos e as oportunidades para os profissionais da nossa área.
Sim, quando maquiamos estamos fazendo política, mas precisamos ir além. Quem é da área da beleza, seja empresário, empregado ou freela, precisa pensar fora da casinha e entender sua própria profissão e o que ela proporciona e gera em sentido mais amplo, afinal nosso voto é nossa voz e também é responsável pelo que colhemos como cidadãos e como profissionais em um momento como esse. E a beleza, a educação e as artes, não estão nos planos dos Governos atuais que não nos respeitam enquanto profissionais e enquanto cidadãos, como toda nossa diversidade. Ser respeitado depende muito de cada um de nós, de nossas escolhas, de nossas atitudes políticas, tanto nos votos que depositamos nas urnas quanto nos rostos que transformamos.
Maquiagem também é política.
Cleber de Oliveira
Colunista
Cleber de Oliveira é Makeup Artist formado na Joe Blasco Makeup Training Center/Los Angeles, formado em Comunicação Social, estudante de Pintura (Belas Artes), atuante nas áreas de teatro e cinema, ganhou vários prêmios como: Prêmio AVON, CBTIJ, Zilka Salaberry, HM – A Nova Geração da Beleza, entre outros, e foi também jurado em diversos acontecimentos da Maquiagem Artística e Caracterização.
fale conosco