Partindo da ideia de que não há lugar como a casa da gente, esta referência no mundo da beleza profissional, arregaçou as mangas, deixou o passado no passado e, sem medo de ser feliz, começou de novo em um espaço que é a sua cara. Eron Araújo abre as portas de seu salão para a HM e conta como é se descobrir um eterno reinventor de si mesmo.
Você tem uma carreira brilhante, uma linda trajetória e já passou por todos os formatos de trabalho: como funcionário, como sócio, como gestor. Quando e como surgiu a idéia de partir para um espaço só seu?
EA: Chega um momento da carreira em que é preciso sair da zona de conforto. Inclusive, falo muito sobre como fazer isso de forma segura, no meu curso online, o “Transformando seu Nome em Uma Marca”, desenvolvido em parceria com a Primetalk, plataforma de cursos online. Essa história começou em 2011, quando me dei conta que precisava de mais um desafio. Queria passar pela experiência de fazer parte de um formato de negócio no qual eu acreditava. Foi aí que dei meu primeiro passo como empreendedor, ao me tornar sócio do Blend, um salão que em pouco tempo se destacou no mercado. Porém, me incomodava o fato de ser um salão muito grande. Não era aquilo que eu queria, eu saí de um formato parecido e estava em busca de algo menor. Enfim, meus sócios me convenceram e alugamos uma casa de mil metros quadrados, lá cheguei a ter 90 funcionários. Assim, me dei conta que ainda não era aquilo que eu queria. Ou seja, meu anseio pela realização de um sonho não acabou ali e por isso, cheguei ao formato que estou hoje.
Você é uma pessoa extremamente criativa e neste momento da decisão de partir para uma carreira solo, mil idéias devem ter passado pela sua cabeça de como seria este espaço. Ele ficou como você sonhava?
EA:Naquele momento não. Ele ficou bonito, tinha um estilo industrial, eu gosto muito de decoração, mas ainda não estava no tamanho do sonho que eu queria, que era um salão menor, mais butique. Eu sempre acreditei e continuo acreditando, que o trabalho de cabeleireiro deve ser personalizado. Por isso, fui em busca do formato de negócio que eu queria. Em 2015, inaugurei o Eron Araújo Creative Salon, que ainda tinha um conceito industrial, mas era um pouco menor – foi aí que comecei a me encaixar mais e a visualizar o formato de negócio que me deixava confortável. É importante não parar de perseguir os seus desejos. Às vezes, nem você mesmo consegue traduzir, mas muitas vezes o caminho vai sendo traçado e então é possível começar a moldar esse sonho, esse novo formato de negócio.
O salão atual tem um conceito diferenciado. Quem desenhou o o projeto? E quais os seus principais diferenciais?
EA: O Eron Araújo Salon é composto por uma mistura das arquiteturas clássica e contemporânea. Ele desconstrói qualquer estilo engessado. É um espaço bem arejado, com muitas janelas, varandas e o verde predominante. É uma casa que abraça. Eu acredito que o maior diferencial desse salão está no fato de a cliente se sentir em casa. Elas falam muito isso! Por ser um lugar aconchegante, iluminado e com um paisagismo tão especial, a sensação é de um lugar com muita vida. Ao mesmo tempo, não é um salão grande. Enfim, era esse o formato de negócio que eu sempre sonhei.
Como foi a escolha do local físico? Algum fator que tenha influenciado nesta decisão?
EA: Logicamente a localização era algo importante pra mim, mas quando eu vi a casa, que era extremamente clássica, eu olhei e falei: “é essa que eu quero”! Com um estilo totalmente diferente dos meus outros salões, me vi num momento desafiador, de desconstruir aquilo que eu era e que havia se tornado meu próprio estilo. O mercado estava cheio de salões industriais, meus dois últimos foram referências de arquitetura no Brasil todo. Foi aí que me vi mais uma vez diante de um desafio e aluguei a casa. Fui desconstruindo o estilo super clássico, ao compor os espaços com toques mais contemporâneos. Eu acho que o fator principal foi esse, desconstruir aquilo que tinha se tornado o meu próprio estilo. Hoje eu tenho certeza que fiz a escolha certa!
Ter o seu próprio espaço traz muita autonomia nos projetos, no dia a dia do trabalho, mas ao mesmo tempo mais responsabilidades que anteriormente eram divididas. Você sente falta em alguns momentos de ter um “sócio” para resolver as questões mais burocráticas que você não goste tanto?
EA:Eu não sinto falta de ter um sócio. No formato de negócio que cheguei é mais importante ter uma equipe alinhada, honesta, que você possa confiar. Eu encontrei pessoas incríveis, que me ajudam muito, até mesmo as questões burocráticas. Acabei gostando, me envolvendo mais e aprendendo muito com essa parte operacional e administrativa. No meu curso também dou ótimas dicas sobre como ser um artista completo, que entrega beleza e atendimento, mas não abre mão de entender seu próprio negócio. Isso é fundamental para que você não tenha “surpresas” na hora de pagar as contas, decepções e, principalmente, para mergulhar de verdade no negócio. Pode parecer um pouco chato, mas é muito importante. Hoje, reservo um tempo do meu dia para analisar planilhas e ver de perto o que está acontecendo com a empresa. Se você quer ser dono do próprio negócio, precisa, no mínimo, entender um pouco sobre todos os processos e ter uma equipe confiável, muito mais que um sócio.
O Salão completou 2 anos, você já atingiu todos os seus objetivos profissionais nele? Ou tem algo que você ainda sente falta?
EA: Não sinto falta de nada e estou muito feliz com tudo o que está funcionando dentro do Eron Araújo Salon. A cada primavera que vejo florescer, sinto prazer de estar onde estou. Me sinto muito feliz com o formato de negócio, com o tamanho do salão, que é o que me cabe, é o que eu consigo administrar e não extrapola meus limites. É fundamental saber exatamente o que cabe dentro do seu formato de negócio. No meu curso também ajudo os profissionais a identificarem o seu projeto ideal, isso faz toda a diferença.
Como foi ficar 100 dias fechados devido à pandemia? Como tem sido o retorno de clientes ao salão?
EA: No começo foi difícil, um susto. Mas, com o passar dos dias, fui pensando em estratégias para manter a empresa viva e todos os funcionários dentro dela, sem demitir ninguém. Pra mim foi uma grande experiência, porque eu não deixei a peteca cair, é o meu sonho, foi nisso que me agarrei com unhas e dentes, para passar por essa tempestade e sobreviver. Não foi e nem está sendo fácil pra ninguém no mundo, mas aí eu tinha duas opções: ou deixava a peteca cair ou fazia de tudo pra sobreviver. Obviamente, tive que mexer nas minhas reservas. Aproveitei o salão fechado para fazer uma nova reforma, convidei o Alex Ranazaki para fazer um paisagismo especial e dar uma cara nova, para que a cliente voltasse e se deparasse com o salão ainda mais aconchegante e com mais verde. Abri mais janelas e portas, para deixar o salão com essa sensação de frescor, de natureza, e o Alex fez isso muito bem, porque o verde está abraçando a casa e o salão está ainda mais acolhedor. O retorno tem sido muito positivo, eu tenho uma clientela muito fiel e isso faz toda a diferença num momento de crise, eu não posso reclamar. O retorno está sendo gradativo, mas muito positivo. Estamos fazendo rodízio de equipe, para evitar aglomeração no salão, mas está indo bem. Em breve voltaremos 100% e precisamos ser fortes!
O que o Eron Araújo acredita ser o principal diferencial para fidelização dos clientes? O que faz suas clientes estarem com você no endereço que for?
EA: Eu, particularmente, acho que fidelizo o cliente porque o meu olhar sobre ele é de cuidado e porque ofereço um trabalho personalizado, faço o meu cliente se sentir exclusivo e não mais um, é um trabalho feito sob medida, desenhado para ele, feito para ele, por ele. Acredito que esse seja um grande diferencial, eu faço questão que o cliente sinta que o trabalho foi desenvolvido exclusivamente para ele. Ainda aprendo a ouvir, examinar o cliente e olhar para ele de uma maneira carinhosa e não tão comercial. Enxergo nele todas as possibilidades, para que eu possa melhorar sua autoestima. Acho que é isso que faz os meus clientes estarem comigo há tantos anos, independente do endereço que eu esteja. São as relações que eu crio e transformo, que me movem na profissão. Percebo meu cliente como um todo, como pessoa, como ser humano e não apenas como uma pessoa que vai ali para diminuir o tamanho ou mudar a cor do cabelo. Faço com que meu cliente tenha uma grande experiência dentro do meu espaço, independente de onde eu esteja.
Qual a dica para profissionais que sonham ter o seu espaço próprio?
EA: Se um profissional sonha em ter o seu próprio espaço, ele precisa se inscrever no meu curso, o “Tranforme Seu Nome em Uma Marca”. Lá conto o passo a passo para administrar a carreira e o salão e ter sucesso nos dois! De qualquer forma, acredito que o profissional precisa adquirir muita experiência, em todos os âmbitos, na vida, na profissão, sobre fidelização de cliente e etc. Abrir por abrir, pode ser um problema. Porém, quando se tem informação, estrutura e experiência, isso traz muito mais segurança para os desafios que virão. Não é fácil ser empresário, não é fácil cuidar de um negócio e sem abandonar o seu lado criativo. A criatividade deve estar sempre na linha de frente. Enfim, se eu puder dar um conselho: adquira bastante experiência e não abra por abrir, abra para fazer a diferença!
RAIO X DO ERON ARAÚJO SALON
Equipe: 36 funcionários
Espaço: 380 m2
Atendimentos semanais: 180
Quantidade de serviços oferecidos: 40
Tempo de funcionamento: 2 anos
“Quando eu entro no salão para trabalhar diariamente sinto que estou no melhor lugar do mundo e que posso fazer a diferença!”
Matéria de Jefferson Stevanato para HM 27