É cobrado um excesso de vaidade da mulher moderna que os exageros em procedimentos estéticos têm chegado ao que pensávamos ser limites inalcançáveis. Prótese de silicone, rinoplastia, preenchimento labial, harmonização facial, bronzeamento artificial, lentes de contato nos dentes dentre vários outros. Me pergunto constantemente onde está (se é que existe) o término de mudança da mulher moderna, que procura alcançar padrões de uma beleza “perfeita”, imposta por uma sociedade que mudou de “a boa mulher é a que lava, passa e cozinha” para a que tem tudo em seu corpo, menos sua verdadeira essência e natural beleza. Meu real questionamento é entender os motivos aos quais as levam, nos levam a querer tantas alterações. Em busca de que? De quem? Por quê? Para que? Só consigo enxergar a falta de amor-próprio e/ou autoaceitação.
Guy Debord, em “A Sociedade do Espetáculo”, (leiam) propôs que os valores sociais invertem-se concomitantemente ao movimento de ascensão do imagético em detrimento do real; ou seja, quando a imagem, o “espetáculo” passa a ser realidade social, a realidade torna-se espetacular – no sentido de irreal, utópica -, assim como seus valores éticos e estéticos. Estes são, infelizmente, os valores das atuais sociedades capitalistas ocidentais – para Debord, baseadas no último grau de alienação do trabalhador em relação à produção: o próprio espetáculo.
Essa criação de valores é desenvolvida pela mídia, que visa aumentar a demanda por produtos desenvolvidos pelas indústrias que a sustentam. Ocorre, então, a fetichização da estética, da beleza, que passa a ser, dessa maneira, mercadoria. Entretanto, como o indivíduo real jamais alcança o padrão determinado pela mídia, grandes problemas sociais são gerados, como a alienação do cidadão, que passa a associar felicidade a beleza artificial e bens materiais e, consequentemente, torna-se consumista.
Embora eu acredite que o termo tenha passado por uma grande banalização, conseguir trabalhar a autoestima é fundamental para lidar com diversas situações, sendo assim, não seria hipócrita ao ponto de dizer que não faço certas alterações -mesmo que mínimas-, também, para me sentir melhor. A questão é: até onde tudo isso levará a mulher?
Li em alguma matéria um tempo atrás que, segundo Joana Novaes, coordenadora do Núcleo de Doenças da Beleza da PUC do Rio de Janeiro, as redes sociais, assim como a televisão, mexem com o imaginário das pessoas de duas maneiras: pela idealização ou identificação. No primeiro caso, buscam modos de vida que existem apenas atrás das telas, em que todos são felizes e não há problemas. “Elas se sentem inferiorizadas porque estão diante de uma realidade sem derrota. Já ao verem um sujeito comum, que não esconde seus defeitos, se identificam e pensam: ‘Se ele pode, eu também posso’.”
Eu acredito que é importante que exemplos de aceitação e autoestima sejam fontes de identificação e inspiração desde que não se tornem outro padrão a ser seguido, porque uma das consequências da busca pela perfeição – muitas vezes disfarçada de estilo de vida saudável – é a ortorexia (doença que surge quando esse objetivo se torna uma obsessão), fazendo assim, com que a indústria da beleza seja julgada e estereotipada de uma forma totalmente errônea, perdendo assim o seu real valor.
A criação dessa demanda gera problemas relacionados à sanidade mental do indivíduo. Aquele é agravado pela necessidade cada vez maior de insumos para a produção da beleza midiática. Este se dá pela frustração causada pelo intérmino não alcançar da beleza desejada, o que pode levar a distúrbios psicológicos, como a depressão e ansiedade, por exemplo.
O ponto da minha coluna é, fazer-se o entendimento da beleza e que ela sendo bem usada, se torna positivamente proveitosa. Em suma, é uma indústria mais consumida por mulheres, elas, fortes, que saíram da cadeia do machismo para buscarem seus poderes de decisões. As mesmas que hoje estão presas em si mesmas, tentando achar a perfeição imposta por essa sociedade moderna de supervalorização da falsa beleza. Por fim, além de agradecer ao HM pelo espaço cedido para a minha coluna, quero ainda incentivar este tipo de trabalho onde os argumentos supracitados são leves e adaptados para que as mulheres usem os maravilhosos procedimentos da beleza de forma sábia, que de fato consiga se adaptar à realidade tomada por meio da consciência do indivíduo, produtor do espetáculo. Sejamos otimistas, tiremos esta mídia destrutiva e vamos nos dar o poder sábio do consumismo, não impedindo a comercialização da mercadoria, mas alertando o cidadão, por meio de propagandas e de veículos jornalísticos, sobre os males que podem ser causados pelo consumismo, pela alienação e pela busca de uma beleza artificial inalcançável.
Carolina Martins
Colunista
Carolina Martins
Formada em Comunicação Social com ênfase em Jornalismo, Carolina possui oito anos de mercado, foi desde suas primeiras experiências, responsável pela comunicação interna e externa das organizações que trabalhou. Atualmente, é CEO na MD Assessoria de Comunicação.