Apesar do protagonista no cuidado ser o dermatologista, de preferência especializado em tricologia, o cabeleireiro também tem papel fundamental no combate ao problema e na recuperação da autoestima da cliente. Afinal, já se sabe que 50% das pessoas que tiveram coronavírus também sofrem com queda de cabelo, o que significa que você vai se deparar com o problema na sua cadeira de maneira muito frequente.
É oficial: 1 em cada 2 pessoas que teve Covid com ou sem sintomas ou internação hospitalar apresenta queda de cabelo. Esse número surgiu a partir de um levantamento de 15 estudos científicos realizados com 50 mil pacientes no total, e ele ajuda a explicar a situação vivia pelo cabeleireiro Ronan Gedeoni no salão 1838, em São Paulo: “Nunca vi tanta cliente reclamando de queda capilar! Inclusive as que não tiveram Covid, devido ao estresse e ao abalo emocional que todos experimentamos nessa pandemia. Para elas, indicamos terapias específicas e orientamos sobre o home care, mas também reforçamos a importância de consultar um dermatologista com especialização em tricologia. Até como forma do problema não se estender ou se agravar, o que pode acontecer quando a cliente já tem tendência à calvície ou alguma doença associada”. A mesma situação é vista no Werner, no Rio de Janeiro: “A queda capilar está tão frequente no nosso dia a dia que apresentamos um cardápio de tratamentos com base de ativos naturais, além de terapias relaxantes, com massagens e óleos essenciais, e de controle da oleosidade e da queda, entre elas argiloterapia, vacuoterapia, peeling capilar e ativação termogênica do couro cabeludo”, lista o terapeuta capilar Paulo Rodrigues.
Todas essas atitudes são válidas, especialmente porque a queda capilar por Covid é semelhante à provocada por outras infecções, como dengue, zika e chikungunya, porém, ela tem algumas particularidades ainda mais cruéis e que atingem em cheio a autoestima. “Ela pode surgir mais rápido, logo que a pessoa é infectada pelo coronavírus, e levar mais tempo para cessar, independentemente de a Covid exigir ou não internação hospitalar ou ser assintomática”, esclarece a dermatologista e tricologista Fabiana Addario, de Santos (SP). “Isso acontece porque a infecção no organismo altera o ciclo do crescimento do cabelo. Acreditamos que o vírus adianta o eflúvio telógeno, que é a passagem abrupta dos fios que estão na fase de crescimento para a fase de queda; e também que o estresse psicológico e até alguns medicamentos usados no tratamento da Covid podem influenciar esse processo ao provocarem uma espécie de colapso no corpo”, completa a dermatologista Patrícia Mafra, de São Paulo.
Segundo a médica, a queda capilar pós-Covid é observada na cabeça toda, mas ela pode intensificar quadros pré-existentes. “Se já existe, por exemplo, uma alopecia androgenética, que é a calvície, localizada na coroa ou nas entradas, a situação será mais acentuada e mais difícil de recuperar. Isso vale para ambos os sexos, sendo que as mulheres costumam demorar mais a perceber o rareamento dos fios por causa do comprimento do cabelo, que acaba disfarçando as falhas, porém, com o agravante de que os novos fios vão levar mais tempo para atingir o tamanho dos demais, trazendo sofrimento”, destaca a dermatologista Patrícia Mafra.
Não tratar não é opção
Mesmo a queda por Covid sendo autolimitada, ou seja, podendo parar sozinha, é preciso tratá-la para evitar o risco de se prolongar e intensificar, deixando muitas áreas calvas e folículos sendo destruídos de maneira permanente. O que significa que mais nenhum fio vai crescer naquela região! “Usamos os mesmos métodos adotados em outras situações, que incluem a prescrição de xampus, tônicos, vitaminas, antioxidantes e remédios para usar em casa. Já no consultório, podemos fazer sessões de lasers e microagulhamento com drug delivery, para potencializar a ação dos medicamentos aplicados na sequência no couro cabeludo”, esclarece a doutora Patrícia Mafra. “Outras boas opções, escolhidas após uma avaliação completa e a realização de exames, são as microcorrentes, a vacuoterapia e o vapor de ozônio combinado com a massagem epicraniana”, lista o tricologista e cosmetólogo Ton Toffanello, consultor da HTM Eletrônica.
Seja qual for a escolha, fato é que a higiene ganha papel de destaque, já que a oleosidade excessiva e a dermatite seborreica podem agravar a queda e interferir no tratamento médico. “Por isso dizemos que o cabeleireiro também tem papel fundamental no sucesso dos nossos protocolos, já que ele pode continuar realizando os cuidados habituais que favorecem a saúde do fio e a autoestima da cliente, como hidratações, escovas e penteados, assim como retoque de raiz, coloração e alisamento, desde que esses últimos não sejam realizados no mesmo dia, sendo ideal dar um intervalo de duas semanas entre um e outro”, sugere a dermatologista Patrícia Mafra.
Conquistar pelo home care
Ronan Gedeoni, hairstylist do 1838, tem feito ainda mais sucesso do que o habitual com as recomendações de cuidados que a cliente deve tomar ao lavar os cabelos em casa. “Ensino que nesse momento o couro cabeludo não deve ser esfregado, para não estimular a produção de sebo, mas, sim, movimentado com as pontas dos dedos, como se a pessoa quisesse soltar e deslocá-lo. Isso favorece a microcirculação local bem como a oferta de nutrientes e oxigênio para o bulbo e a raiz. Já o condicionador, só deve ser aplicado nas pontas; a secagem deve ser feita, sempre que possível, ao natural, caso contrário, mantendo o secador distante da cabeça e aplicando protetor térmico nos fios. Quanto à química, sugiro dar uma descansada o máximo que ela aguentar. Mas, se tiver fios brancos, podemos optar por uma tinta orgânica, que tem oxidante fraco, é livre de amônia e de metais pesados. Sobre o reflexo, a gente pode retocar com um descolorante sem amônia se o cabelo for claro, já se ele for colorido aconselho dar um tempo e retocar apenas a raiz com a tinta orgânica, porque um pó mais suave não fará efeito”, diz o hairstylist. Jogar com a verdade e mostrar preocupação com o bem-estar do próximo, mesmo que isso inicialmente impacte no faturamento, é uma excelente estratégia para se diferenciar no mercado, fidelizar a cliente e terminar seu dia com a sensação de ter feito o seu melhor por quem confiou a própria beleza e autoestima a você.
FRASES
“Nunca vi tanta cliente reclamando de queda capilar! Inclusive as que não tiveram Covid, devido ao estresse e ao abalo emocional que todos experimentamos nessa pandemia. Para elas, indicamos terapias específicas e orientamos sobre o home care, mas também reforçamos a importância de consultar um dermatologista com especialização em tricologia”
Ronan Gedeoni, cabeleireiro do salão 1838
“A queda capilar está tão frequente no nosso dia a dia que apresentamos um cardápio de tratamentos com base de ativos naturais, além de terapias relaxantes, com massagens e óleos essenciais, e de controle da oleosidade e da queda, entre elas argiloterapia, vacuoterapia, entre outras”
Paulo Rodrigues, terapeuta capilar do salão Werner
“Outras boas opções de tratamento, escolhidas após uma avaliação completa e a realização de exames, são as microcorrentes, a vacuoterapia e o vapor de ozônio combinado com a massagem epicraniana”
Ton Toffanello, tricologista e cosmetólogo, consultor da HTM Eletrônica
Matéria de Shâmia Salem