Uma das maquiadoras mais icônicas da nossa geração, Vanessa Rozan conta como construir uma carreira de sucesso e em constante evolução
Karina Hollo (@karinahollo)
Vanessa Rozan (@vanessarozan)não era uma adolescente ou jovem adulta que consumia e usava maquiagem. Até porque, nos anos 1990, o acesso à maquiagem e técnicas era bem diferente do que a gente tem hoje. “Uma das coisas mais antigas de beleza que eu lembro é ver uma revista de noivas no ateliê da minha avó, que é viva, e foi costureira a vida toda. Quando ficava com ela nas férias, vivia aquele universo dela costurando, dos vestidos, dos tules, dos tecidos. Ela vinha para São Paulo, ia na Rua 25 de Março comprar tecidos. O primeiro contato com moda e com maquiagem foi nesse lugar.”
Mas Vanessa nunca pensou que poderia ser maquiadora. Tinha vontade de fazer faculdade de moda ou de artes plásticas, mas cursou publicidade. “Fotografia era minha disciplina favorita. Eu adorava todo o processo da captura da imagem. Fato que, já trabalhando na área, não estava feliz. E procurei saídas.” Conversando com a mãe, pensaram em ter um salão de beleza. “Minha avó, quando era mais jovem, não só vestia as noivas, mas também arrumava, fazia maquiagem e o cabelo. Então, resolvi fazer um curso de cabelo para ajudar no nosso negócio. Foi assim que me formei cabeleireira pelo SENAC. Quando abriu o curso à tarde de maquiagem, eu pensei: vou fazer esse curso como um complemento. Porque é bom saber fazer as duas coisas. Lá, conheci o Beto França que foi meu professor e é um grandiosíssimo maquiador, grandiosíssimo artista e um professor generoso que tem didática. Que não só sabe fazer, mas sabe ensinar. E ele foi um grande guru para mim porque ele abriu uma porta, me levando pela primeira vez como assistente, ainda no curso, para um curso de automaquiagem que ele ia ministrar”, lembra.
Vanessa foi chamada para trabalhar na MAC, em 2002 e começou a aprender cada vez mais. Passou do varejo para o treinamento e depois para maquiadora sênior. “Foram seis anos de MAC Cosmetics. Digo que fiz o curso do Senac, mas o meu mestrado, doutorado e pós-doutorado foram na MAC. Lá eu aprendi com uma outra guru a Edith Meirelles, sobre pessoas, treinamento, venda, composição de produto, tive vivências em desfiles de moda aqui no no Brasil, na SPFW. Em 2008, passei a fazer os desfiles internacionais: Milão, Paris, estava nos backstages dos desfiles mais importantes, na equipe dos maquiadores internacionais, outra baita escola.”
Nessa época, muita gente queria aprender a fazer maquiagem. Era o início dos blogs, dos tutoriais do YouTube, marcas internacionais chegando ao Brasil, novas marcas nacionais surgindo. “Vi a oportunidade de montar uma escola – o Liceu de Maquiagem que completa esse ano 14 anos. Paralelamente, estava começando o trabalho no Esquadrão da Moda, as primeiras temporadas, aprendendo de televisão na transição para vídeo HD. Mais uma escola, de TV e maquiagem HD.”
Olhar acurado
Nesses quase 21 anos de carreira, Vanessa sempre viu a beleza, a maquiagem, como uma ferramenta de autocuidado. “Serve como um acessório para te fazer se sentir mais linda /o, mais bonita/o, mais segura/o. Construí todo o meu discurso em cima de uma beleza que revela sua beleza, ao invés de ficar na loucura de apagar ou consertar o que você acha que está errado.” Por que que o nariz tem que ser assim? Por que que o olho tem que ser assado? Como que esses padrões foram construídos? “Para mim, a beleza é um campo a ser estudado. É meu trabalho, mas eu discuto isso também nas minhas lives, quando sou chamada para uma palestra, com os alunos do Liceu. Acho que essa é a minha marca registrada.”
Vanessa segue maquiadores que gosta e admira. E tem também outras inspirações mais abstratas de outros universos: uma exposição, um lugar novo, o jeito como as pessoas estão vestidas, as viagens sempre foram uma grande forma de aprender e de refrescar o olhar. “É um pouco olhar tudo com os olhos de uma criança.”
Horizontes ampliados
Vanessa conta que quando começou, quem fazia social não sabia fazer moda e vice-versa. “Eu tentei construir um lugar onde a maquiagem pode ser uma expressão de arte, uma expressão de moda, uma expressão do seu eu. Quando eu tenho a possibilidade de olhar aquele rosto, é quase como se fosse uma arqueologia da beleza, é trazer a potência que está escondida.” Pode ser uma modelo, uma cliente social. “Nisso o Esquadrão [da Moda] foi uma escola, porque você se envolve com o participante. Às vezes, num trabalho social, você não tem tanto tempo para se aprofundar. Com uma noiva um pouco mais. Mas eu gosto muito dessa possibilidade de revelar, sabe? De trazer ali o que tem de melhor. E claro, eu adoro o trabalho criativo. Então, quando eu faço SPFW com Neriage, que é uma marca que eu vi nascer, conto uma história, vou em busca de materiais, olho para as coisas que não são maquiagem. Como é que a gente usa esse produto aqui e de uma forma criativa, divertida, nova, inusitada, sexy? Eu gosto, eu gosto desse trabalho um pouco lá é um pouco aqui. Não gosto de definir muito.”
Instagram herói e vilão
Teve uma época em que Vanessa confessa, tinha muita birra do Instagram por causa da “maquiagem de Instagram”. “Tinha essa coisa da maquiagem que cria um impacto visual, que outras redes sociais também têm hoje. Tem o antes e o depois, tem a transformação, tem o dramático, tem o contraste, tem muita cor, tem formas gráficas – tudo prende o olhar de quem está ali rolando feed com 1398 coisas e informações acontecendo.” Essa maquiagem feita para impactar gerava nela uma certa angústia. Mas ela entendeu e aprendeu a usar redes sociais na pandemia. E separar a vida pessoal, mantendo uma certa privacidade. “Tive que fazer um curso de redes sociais, apesar de ter estudado redes sociais no mestrado. Fiz um curso de como usar, como fazer as hashtags, entender o algoritmo. E comecei a entender como a gente pode usar as redes sociais como uma janela para o nosso trabalho. Produzir conteúdo é um trabalho difícil. Você faz a maquiagem, tem que gravar, é o editar, depois botar a música, é a legenda, e a luz e aí ficou bom isso, não ficou… É um trabalho que você como profissional deve usar a seu favor, mas sem angústia, ou vai ter um burnout. Rapidinho.” Entendeu que números nem sempre são sinais de sucesso. “Tem muito bom produtor de conteúdo que fala muito bem pro nicho e as marcas estão se dando conta de que é nessas pessoas que eles têm que investir.”
Maquiagem é poder
A maquiadora entende que a make é uma ferramenta de expressão pessoal assim como a roupa e o cabelo. “E são escolhas que você faz de como você quer estar no mundo – e isso também é político. A gente tem essa questão dos padrões de beleza muito estabelecidos. Eu acho que a Beleza também pode ser uma ferramenta de quebra de padrões e de empoderamento.”
Abaixo os padrões
Quando ela começou na maquiagem, tudo era muito prescritivo: essa temporada vai usar o azul, como usar o azul para mulheres de pele clara, cabelo escuro, mulheres de pele clara e cabelo loiro, mulheres de pele clara e cabelo ruivo, negras, orientais. “Era assim, prescritivo-segmentado. E a gente viu, com os blogs de maquiagem, os tutoriais, em especial as redes sociais, que se criou diferentes linguagens para usar essa maquiagem.” Então a técnica que era uma coisa profissional que estava ali na mão de um grupo seleto que passava para jornalista, explodiu inclusive para amadores, amantes de maquiagem que, treinando, desenvolveram técnica e acabamento. “Acredito que maquiagem pede técnica apurada para acabamento profissional.”
redes sociais
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Instagram @vanessarozan
Twitter @vanessarozan
Tiktok @vanessarozan
Vi a oportunidade de montar uma escola – o Liceu de Maquiagem que completa esse ano 14 anos. Paralelamente, estava começando o trabalho no Esquadrão da Moda, as primeiras temporadas, aprendendo de televisão na transição para vídeo HD. Mais uma escola, de TV e maquiagem HD.
Vanessa Rozan