Quando o Ministro Paulo Guedes usa o microfone, no começo das intermináveis entrevistas coletivas, costumo dizer: lá vêm mais bilhões, que, dificilmente, serão liberados. O todo poderoso da Economia está no papel dele: animador de torcida (no caso, nós, o povo brasileiro). Mas, não é preciso ter tantos títulos acadêmicos para saber que anúncios de bilhões de reais caem no esquecimento, ou simplesmente não chegam ao bolso de quem mais precisa.
O fato é que as estimativas sobre o impacto econômico da pandemia apontam para uma depressão sem precedentes no País. Por outro lado, as autoridades garantem que o auxílio já foi destinado aos mais necessitados, via parcelas de 600 reais, além de financiamentos com juros a perder de vista para os empresários bem perto da quebradeira.
Será mesmo? Passados noventa dias dos efeitos provocados pela Covid-19, persistem as dificuldades para os negócios de pequeno porte. Pesquisa do Datafolha mostra que as medidas governamentais de combate à crise não chegaram à ponta. O estudo foi encomendado em São Paulo pelo SIMPI, Sindicato que representa os micro e pequenos empresários.
Foram ouvidos 257 deles entre os dias 6 e 15 de junho. Na enquete, 29% informaram ter algum cliente que deixou de comprar porque entrou em falência ou recuperação judicial. Na cadeia de fornecedores, essa taxa negativa chega a 21%. O risco de falir nos próximos 30 dias é mencionado por 16% das empresas ouvidas. Enquanto 14% consideram entrar com pedido de recuperação judicial.
De acordo com o presidente do SIMPI-SP, Joseph Couri, esses dados refletem a ineficiência do socorro financeiro do governo para o micro e pequeno empresário. Segundo Couri, os critérios usados pelos bancos privados para análise de crédito, como a exigência de que a empresa não tenha dívidas com o fisco, por exemplo, têm impedido que muitas das firmas de menor porte acessem as linhas emergenciais trombeteadas pelo governo.
No levantamento do Datafolha, 88% das indústrias revelam que estão sem crédito, no momento, para manter suas operações. As empresas que avaliam como insuficiente o capital de giro, chegam a 62% do total de entrevistados em São Paulo.
Joseph Couri traça um quadro negativo para a retomada. “Não adianta o governo garantir, pelo Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, até 100% de inadimplência, como está discutindo, se não mudar como é feita a análise de crédito, pelo sistema tradicional. Não vai liberar dinheiro nenhum”, concluiu.
Matéria de Caio Camargo
Fonte: Valor Econômico
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